sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A SOCIEDADE DO FUTURO: A TRANSIÇÃO JÁ COMEÇOU


Ao transpormos o século XX e já a terminar a primeira década do século XXI, apercebemo-nos de que os quinhentos anos de «cultura ocidental» estão também a terminar.

Está a terminar uma «Era», período de tempo que corresponde aproximadamente a quinhentos anos.

Neste longo período que começa sensivelmente por volta do ano de 1500, com as primeiras contestações das crenças religiosas e termina nos nossos dias com o pós modernismo e a sua contestação aos valores sociais tradicionais, a cultura ocidental, embora mantendo alguma unidade, o seu traço comum tem sido, de facto, a decadência.

Decadência no sentido de desvio, bastante acentuado, especialmente nos últimos cem anos, do ponto de equilíbrio que pode permitir a vida do Homem no Planeta, das relações sociais entre as pessoas e da sobrevivência das sociedades humanas no seu conjunto.

Como pano de fundo desta evolução, o teatro das quatro grandes revoluções: a religiosa, a monárquica, a liberal e a social, separadas sensivelmente por intervalos de cento e vinte cinco anos.

De facto, a chamada Era Moderna, começa em princípio do século XVI com uma Revolução.
Conhecida como Reforma Protestante, esta revolução contesta o poder da Igreja e algumas crenças religiosas e tenta efectuar a transferência violenta do poder e da propriedade, em nome de uma ideia: o Protestantismo, cujo principal protagonista foi Lutero.

A Revolução Monárquica do século XVII, baseia-se na imposição de uma dupla ideia: a de Monarca em oposição a Rei e a de Nação em oposição a Reino. É a época da unificação dos reinos e a formação das nações-estado, sob a autoridade de um monarca incontestado, o rei dos reis. Durou cerca de duzentos anos.

A Revolução Liberal e Individualista, que cobre os séculos XVIII e XIX, começa com a Revolução Francesa de 1789, inspira-se nas ideias protestantes e contesta agora o poder absoluto do rei e dos nobres, tenta liberalizar a monarquia, lança um conjunto de doutrinas políticas, sociais e económicas, introduz as ideias de igualdade entre todos e de democracia e inspirou as primeiras ideias de uma sociedade comunista, com Gracchus Babeuf e Blanqui, a quem Lenine foi buscar os métodos de formação daquele tipo de sociedade.

As consequências directas da Revolução Liberal foram não tanto o comunismo, mas sim o Nacionalismo e o Liberalismo, no sentido da afirmação dos direitos individuais e dos governos democráticos (representativos do povo) ideias que predominaram em todo o século XIX e até no século XX, segunda metade, com a queda das ditaduras e do fascismo.

Finalmente a Revolução Social, também chamada Russa ou Colectivista do século XX.

Mas, antes de me debruçar sobre a génese desta revolução, é importante caracterizar o clima social, político, económico e cultural desta transição do século XIX para o século XX.

E, o que ressalta como óbvio, é a curiosa coincidência desta transição de há cem anos para o século XX, ser muito semelhante à que estamos a atravessar na época em que estamos, do século XX para o século XXI.

De facto, o ambiente é muito parecido! Só faltaram as novas tecnologias (computador, internet, televisão, telemóveis, i’pods…).

A mudança do século XIX pra o XX foi uma verdadeira reviravolta. Tudo o que caracterizava a cultura prevalecente no século XIX, foi virada do avesso. Tudo era contestado.

Na peça de Oscar Wilde, «The importance of Being Earnest», todas as virtudes do período precedente, foram ridicularizadas. Afirmava-se que a arte não tem de ensinar a moralidade.

Vivia-se um ambiente de relativa prosperidade económica, consequência da revolução industrial, o que apelava ao consumismo.

A droga e com ela a toxicodependência, apareceram nesta época. Drogas como a heroína, a marijuana e até a morfina, eram consumidas livremente.

A revolução sexual e a emancipação da mulher, contrariamente ao que se pensa, apareceram aqui. Os divórcios dispararam, a violência doméstica aumenta, as cisões familiares aumentam, tal como hoje…

No domínio das artes, em particular na pintura, a corrente prevalecente, que rompe com o impressionismo e o pós-impressionismo é o Cubismo (expressão das formas), uma espécie de imagem a três dimensões, aparece em 1908, com Picasso e Braque.

O caos e a desordem social era tanta que, muitos propunham o regresso a um primitivismo simples, curiosamente tal como hoje, como forma de garantir a sobrevivência das sociedades.

O ambiente político e social era, no entanto, muito tenso, consequência da emergência dos nacionalismos inspirados na revolução francesa e de divergências entre o Estado e a religião oficial, em alguns países europeus.

Em França, a Terceira República vacilava, ameaçada pelo poder militar. A Inglaterra perdia a supremacia industrial e comercial, e era ameaçada pelas classes trabalhadoras das indústrias, que reivindicavam melhores condições de trabalho e de vida.

A Alemanha, e outros países, apesar do seu poderio imperial, vivia uma «guerra» de culturas (divergências entre o Estado e a população católica) e pela agitação política e social provocada por grupos socialistas e trabalhadores.

Os nacionalismos ganham expressão, exacerbando tensões entre alguns países europeus (Uma revolta na Noruega, determinou a sua separação da Suécia).

Este estado de tensão e de agitação, em simultâneo com um clima cultural de contestação social e dos valores prevalecentes no século anterior, indicava de certo modo, que o fim do século XIX, determinaria também o fim de todas as coisas.

Passados os primeiros catorze anos do Século XX, a tragédia que se seguiu ao pressentimento de que tudo iria acabar, chamou-se Primeira Grande Guerra Mundial (1914-1918).

Embora as causas próximas sejam conhecidas, o que importa são as causas remotas. E as causas remotas vamos encontrá-las no exacerbar dos nacionalismos na Europa e na instabilidade na definição das identidades nacionais de algumas regiões do velho continente e ainda na necessidade de consolidação dos impérios coloniais.

Amadurecem agora ideias que já vinham do período anterior à guerra.

Opera-se a Grande Mudança, com o aparecimento dos socialismos e das questões sociais (as primeiras ideias concretas sobre o Estado Social aparecem aqui) e essencialmente a grande mudança procura transformar o Liberalismo no seu contrário, o Socialismo.

Após estas considerações históricas prévias, podemos agora compreender a génese da quarta revolução, a Social, também chamada de Revolução Russa ou Colectivista.

Os antecedentes remotos desta revolução vamos encontrá-los no período anterior à Primeira Grande Guerra, inclusive ainda nos últimos anos do século XIX.

De facto, existia na Rússia, nessa época, uma conspiração permanente contra o regime autocrático dos czares, designadamente dos Romanovs, com assassinatos, execuções e trabalhos forçados nas minas de sal da Sibéria.

A agitação social prevaleceu, com golpes e contra golpes, até que o czar, ainda vitorioso, inicia acções punitivas a partir de 1905 e cala a rebelião.

A Revolução Social do século XX, embora, como atrás referido, já com a sua génese em finais do século XIX, começa sensivelmente por esta altura, em 1903 quando, na Rússia, é criado o Partido Operário Social- Democrata Russo, de inspiração marxista e sob a liderança de Vladimir Lenin.

A Revolução Russa de 1917, veio depor definitivamente o regime dos czares, com a queda de Nicolau II, em nome de um socialismo que proporcionasse maior justiça social para o povo, da necessidade de se reformularem os direitos de propriedade, especialmente da propriedade agrária e de se lançarem as bases de uma nova economia que desenvolvesse o país.

Seguiu-se uma guerra civil sangrenta que se prolongou por décadas, com milhões de mortos, milhares deles executados sumariamente.

Terminada a Primeira Grande Guerra em 1918, a Europa fica destroçada.

Lenin e Trotski, denunciaram a guerra, apontando-a como uma consequência do imperialismo e do capitalismo.
Centenas de Milhares de operários e trabalhadores diversos, caem no desemprego e passam sérias privações, dando razão às teses dos dirigentes russos.

A Rússia, por ter repelido os alemães, afirma ter vencido o imperialismo e o capitalismo, dando força a uma corrente intelectual que via na Revolução Russa, um recomeço de «mãos limpas».

No mundo ocidental as teses de Marx são retomadas e o marxismo volta a ganhar popularidade, criando-se células por toda a Europa.

A Grande Depressão de 1929, com a ruína das Indústrias e dos Bancos, coloca o mundo ocidental em sérias dificuldades, dando mais uma vez razão às teses russas do marxismo.

O comunismo tornou-se popular, pois garantia estabilidade e um mínimo de subsistência garantido para todos.

A Revolução Social estende-se por todo o século XX. Surgem as grandes descobertas científicas que haviam de revolucionar o mundo pós Segunda Guerra Mundial. Einstein e Freud estão na moda.

No período compreendido entre as duas Grandes Guerras, amadurecem as correntes político sociais. Nos anos trinta aparece o fascismo e depois o nacional-socialismo, na Alemanha e na Itália como corrente intermédia entre liberalismo e comunismo.

Por todo o mundo, muitos Estados adoptam o comunismo de modelo russo.

Os líderes ocidentais adoptam o governo do povo, baseados num conceito incorrecto de democracia. A democracia, por definição, é o governo de todo um povo, um sistema em que toda a comunidade debate e vota. Nunca tal se verificou, pois basta a permissão da abstenção para não se poder falar de democracia.

Mais correctamente devemos falar de período demótico que significa época do povo ou da prevalência do povo e que caracterizou toda a segunda metade do século XX.

Antes porém, acontecimentos e tensões semelhantes aos que desencadearam a Primeira Grande Guerra, acabam por desencadear a Segunda.

Nova tragédia para a Europa que fica novamente destroçada. Ergue-se novamente com o auxílio dos EUA, mas o Mundo fica dividido entre o Ocidente «democrático e anticomunista» e o mundo comunista com a emergência da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (União Soviética) que, em consequência da guerra, anexou grande parte da Europa Oriental e Central, incluindo uma parte do território alemão.

Surge a Guerra Fria, baseada no equilíbrio do terror e dos armamentos nucleares, e com ele o antagonismo entre dois sistemas económicos e sociais: capitalismo e comunismo.

Surgem a NATO e o Pacto de Varsóvia, duas organizações rivais que se digladiam. Aparece a Sociedade das Nações, depois Organização das Nações Unidas, com o intuito de prevenir e dirimir os conflitos mundiais.

Apesar deste quadro de tensão mundial do pós Segunda Guerra, a Revolução Social do Século XX prossegue, com bastante ímpeto especialmente a partir dos anos sessenta, em que os tempos demóticos ganham uma expressão sem precedentes.

A loucura dos anos sessenta, com o aparecimento dos Hippies , o tempo do «façam amor não façam a guerra» e a revolta estudantil do Maio de 1968 em França, foram a pedra de toque que haveria de marcar as décadas seguintes.

A emancipação das pessoas e das sociedades, isto é, a libertação das grilhetas do passado, é um facto e tudo é posto em causa, valores, princípios morais, dando a forma a uma corrente designada de Relativismo, em que se procura demonstrar que todos os nossos actos são relativos, não há valores absolutos.

O Bem e o Mal são relativos. O mal para uns pode ser o bem para outros!

Em matéria de emancipação das sociedades, o Separatismo é a tendência mais forte em finais do século XX.
Um pouco por todo o mundo, os separatismos ocorrem: Escócia, Gales, Bretanha, País Basco, Repúblicas soviéticas, Quebec, Curdistão, Texas, Repúblicas Bálticas, Paquistão, Bangladesh, são apenas alguns exemplos.

O crime organizado prolifera, perante a complacência e impotência dos poderes públicos.

O individualismo, que predominou nas décadas anteriores, é confrontado com o Estado Social. Este já não se limitava apenas a garantir a subsistência dos pobres e desfavorecidos, mas também a segurança e conforto de todos os cidadãos.

O custo do Estado Social era e é elevadíssimo, o que implicava impostos elevados, o desperdício e a corrupção pela existência de leis complicadas.

Com o Estado Social fomentava-se o consumismo, criavam-se novas necessidades e levava ao endividamento desmesurado das pessoas, apenas para consumir, traços também característicos deste período demótico.

A democracia entra em crise, pela descrença dos cidadãos nos políticos, a abstenção abre caminho à eleição de governos não representativos.

O indivíduo demótico do século XX surgiu na sua qualidade de cidadão: imigrante, defensor da liberdade, criminoso, votante apático, consumista, recebedor de benefícios concedidos pelo Estado ou vítima de uma ordem pública impotente.

O que mais desejava o indivíduo demótico era a Vida não Condicionada, como preferência, no culminar de 500 anos de emancipação.

O Impróprio era e é ainda, o traço característico do estilo demótico:
- As convenções tradicionais caem para dar lugar ao bizarro, ao obsceno; a indumentária juvenil rasgada e suja, pretende imitar a aparência dos estratos sociais mais baixos, o desleixo deliberado contrariava o snobismo e o egotismo.

A revolução sexual do início do século dá lugar à sexualidade explícita, à sensualidade, à obsessão mental pelo sexo, à pornografia na Internet e em muitas revistas ao alcance de todos, incluindo crianças, ao comércio do sexo, à prostituição feminina e masculina, anunciada com toda a liberdade na Web, em jornais e em revistas.

A paixão e o amor deram lugar ao prazer do sexo e a toda a espécie de práticas sexuais promíscuas.
A promiscuidade sexual faz surgir uma doença terrível: a SIDA, que já matou milhões e ainda não se alcançou a cura.

O adultério tornou-se vulgar e deixou de ser crime. Muitas mulheres e homens optam por não casar nem constituir família.

O conceito de família tradicional é posto em causa.

A homossexualidade é consentida e depois legalizada
, passando a ser considerada uma orientação sexual tão normal como a heterossexualidade. Passou a ser um direito constitucional.

O casamento entre pessoas do mesmo sexo é legalizado em vários países de cultura ocidental.

Os divórcios disparam e sobem exponencialmente, a violência doméstica sobre as mulheres aumenta de forma preocupante, muitos casais jovens preferem juntar-se a casar-se perante o espectro muito provável do divórcio a curto prazo, as famílias desfazem-se, os filhos são seriamente afectados.

A instabilidade conjugal é enorme devido à mudança dos hábitos sexuais
e da influência do passado, sempre presente.
O alcoolismo juvenil, com bebidas de forte teor alcoólico, está na moda, nos bares nas discotecas e em tudo o que é diversão, dando lugar á incidência muito precoce, ante dos trinta anos, de uma doença também fatal: a cirrose hepática que atinje já extratos populacionais cada vez mais jovens, indiferenciados, entre mulheres e homens.

Proliferam um pouco por todo o lado as Sex-shops, onde se encontram toda a espécie de produtos, artigos e instrumentos para proporcionar prazer e divertimento sexuais.

A promoção do desejo, a pornografia de fácil acesso, as drogas estimulantes estão na moda, para aumentar a duração do acto sexual, dando a falsa aparência de atletas aos protagonistas.

A paralisia, a impotência masculina, a depressão, as doenças mentais começam a afectar tanto jovens como adultos. A taxa de natalidade desce cada vez mais para níveis preocupantes, pondo seriamente em risco a renovação da população e com ela a sobrevivência das sociedades.

A procura do prazer e do consumismo, parece ser a principal preocupação do indivíduo demótico dos finais do século XX e princípio do século XXI.

Cabe aqui uma referência ao Relativismo e à sua relação com a Vida não Condicionada, ideias que caracterizaram e caracterizam ainda os tempos demóticos, da Revolução Social de finais do século XX, princípios do século XXI.

O termo relativismo pretende significar a causa de toda a imprecisão. Relativo significa flexível, adaptável, numa escala em que o mesmo facto ou situação são vistos em perspectivas diferentes.

O Relativismo nega que exista o Bem e o Mal. Para o relativista não há moral, religião ou cultura.

Quando a moral diz: não se deve mentir, o relativista diz: vou mentir ou não, conforme me convier ou segundo os meus interesses.

Por isso, a corrupção, o roubo, até um homicídio, podem ser justificados à luz da corrente relativista.

A corrente relativista é contra a existência de códigos morais, de princípios e valores sociais de referência, nem implica qualquer juízo de valor ou preferência definitiva.

A civilização ocidental vangloria-se de ter desenvolvido o relativismo e o pluralismo. Este acomoda num mesmo sistema, religiões, códigos morais, correntes políticas.

Por isso é legítima a pergunta, até que ponto uma sociedade pode permitir a diversidade sob o pluralismo, e isso constituir um problema real?

E é legítima outra pergunta: não haverá pelo menos alguns princípios fundamentais de conduta que todo o mundo reconheça como vinculativos e não sujeitos a alterações ou diferentes juízos de valor?

Aparentemente não!
Mas, a pergunta deve, no mínimo, ser sujeita a uma profunda reflexão, antes de uma resposta definitiva. Por isso fica no ar para uma crítica.

A corrente relativista, explica assim, o comportamento do indivíduo demótico especialmente do último quartel do século XX e com grande expressão nos primeiros anos do século XXI

O relativismo explica que não haja distinção entre alunos bons ou maus numa escola, o direito ao sucesso e à ascensão social de todos os indivíduos, sejam competentes ou não, trabalhem ou não.

O relativismo é uma espécie de Lei da Selva, em que cada um faz o quer, como quer e onde quer e em que cada indivíduo, não hesita em enganar e prejudicar o seu semelhante, se isso constituir uma vantagem para si e seja do seu interesse.

É óbvia a relação da corrente relativista com a característica demótica da Vida não Condicionada, estilo de vida do Homem de finais do século XX, princípios do século XXI.

Para terminar, as grande interrogações:

- Os 500 anos de civilização ocidental decadente estão, de facto, a terminar?
- A transição para uma nova sociedade, não relativista, ou seja, em que haja princípios morais e valores de referência que todos respeitem, já começou?

Quanto à primeira pergunta
, ao analisarmos todo o percurso do Homem durante estes 500 anos, tudo aponta para o fim de uma Era e de uma civilização.

Parece que o Homem de cultura ocidental caminha para a sua autodestruição. Tudo aquilo que no passado era o suporte e o sustentáculo de uma vida equilibrada que garantia a sobrevivência e a continuidade das sociedades, porque mais de acordo com a Ordem Natural da vida no Planeta, está desmoronar-se e, muito preocupante, de forma irreversível.

De facto, uma sociedade que não se renova, que segue padrões de vida que se afastam cada vez mais da Ordem Natural do Planeta que habitamos e que, contrariamente às outras sociedades animais que vivem segundo a lei da selva natural, segue, segundo o princípio relativista, a Lei da Selva Racional (logo pervertida, não natural), caminha para a irreversibilidade da autodestruição.

Nesta caminhada e disso já somos testemunha, geram-se tensões sociais graves, as relações entre as pessoas são cada vez mais difíceis, ninguém se pode dar ao luxo de «dar o flanco», pois corre o risco de ser enganado e gravemente prejudicado. Toda a gente engana toda a gente. O relativismo assim o justifica.

A sociedade do prazer e do relativismo, que bem caracteriza o mundo ocidental actual, transformou o sexo em mero instrumento de prazer e diversão e menos em instrumento de reprodução, o que muito está a contribuir para a queda constante da taxa de natalidade, juntamente com outros factores: a homossexualidade, a carreira e a emancipação das mulheres, desviando-as da sua função natural de geração de novos seres, a infertilidade masculina e feminina devido aos excessos e à vida anti-natural, às cisões familiares e à perversão do conceito de família.

As sociedades ocidentais emanciparam-se, mas emancipação não pode significar autodestruição e está , de facto a autodestruir-se pelo mau uso que tem feito dela ao longo dos séculos e que, no fim da era moderna e já no pós-modernismo, a emancipação está a assumir foros de verdadeira loucura colectiva, podendo tornar a vida em sociedade insustentável.

Esta é a minha convicção!

Quanto à segunda questão, é um facto que a civilização ocidental se transformou numa Caixa de Pandora, que já se abriu e o vendaval já começou.

A queda da civilização ocidental ou cristã, como lhe queiramos chamar está, de facto, a aproximar-se do fim e está a ocorrer por razões semelhantes às da queda do Império Romano.

Apenas uma diferença: os novos bárbaros agora chama-se «islâmicos» e já cá estão em força, por via da globalização e da abertura das fronteiras, preparados para avançar e desferir o golpe final.

O 11 de Setembro de 2001, foi apenas um exemplo de um ataque brutal e bem sucedido dos novos bárbaros, ao coração da grande nação de cultura ocidental.

Uma guerra de civilizações já começou na transição do milénio
, e está em marcha avassaladora.

Os «infiéis» de outrora, transformaram-se em «cruzados» e os antigos «cruzados», transformaram-se, hoje, nos «infiéis».

As cruzadas de hoje são contra o ocidente e a sua cultura decadente. Os papéis inverteram-se. A guerra santa ou «Jihad», já começou.

E as suas vitórias vêem-se e somam-se, para surpresa de todo o mundo: no Iaque, venceram as maiores potências do mundo, dispondo de meios bélicos exíguos; no Afeganistão estão prestes a alcançar nova vitória, com o recuo e a retirada das maiores potências económicas e militares do mundo.

O mundo islâmico ganha terreno, perseguindo e eliminando pela força o que ainda resta de cultura cristã e ocidental: em África (Sudão, Etiópia, Argélia, Egipto, Nigéria, Somália e muitos outros); na Ásia (Indonésia, Filipinas, Timor Oriental e Ocidental, Médio Oriente).

Na Europa, a população muçulmana instalada, já com descendentes de cultura muçulmana, ascende já a mais de 50 milhões.

O Ayatola Ali Jamanei, líder espiritual do Irão, afirmou:

«Há sinais de que Alá concederá a vitória na Europa, sem espadas, sem armas, sem conquistas. Os 50 milhões de muçulmanos na Europa irão convertê-lo num continente muçulmano em poucas décadas»

Ninguém consegue prever o futuro, mas tudo aponta, para uma implantação e influência cada vez maior da população e cultura muçulmanas, que segue princípios morais e valores de referência social levados ao extremo, cuja taxa de natalidade é muito superior aos dos povos europeus e até do continente americano.

A grande Transição para Nova Sociedade, parece já ter começado. A nova Europa chamar-se-á «EURÁBIA», assim o afirmam os líderes muçulmanos, certos da vitória!

Terá o mundo ocidental decadente, ainda capacidade para reunir forças e encontrar um ponto de equilíbrio?

O futuro o dirá!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

NO PAÍS DOS PAPAGAIOS

Portugal está a falar de mais!

Está a falar de mais e a trabalhar menos, para resolver os gravíssimos problemas com que se está a defrontar e que se vão agravar no ano que se avizinha.

Nos jornais, nas rádios, nas televisões, os mais exímios «experts», sabem tudo sobre tudo.
Fazem lembrar os relatores de futebol, a comentar, a descrever e a criticar as jogadas políticas dos atletas que protagonizam este espectáculo gratuito proporcionado ao país.

Muitos deles, apesar de tudo saberem, em teoria, na prática já deram provas da incoerência daquilo que dizem e da incapacidade de resolverem os problemas do país.

Repetem sistematicamente as mesmas receitas de sempre, quais papagaios que ainda não aprenderam a falar de outra maneira.

Falamos muito, mas trabalhamos pouco.

Mas há excepções! Há neste país excelente gente que fala pouco e trabalha muito.

No silêncio dos laboratórios, pessoas, das mais qualificadas a nível nacional e internacional, pouca gente as conhece, poucas vezes as televisões, nas suas reportagens divulgam e dão a conhecer as suas actividades.

Mas, esses anjos da ciência existem e pouco falam, porque dedicam a sua vida à causa da ciência e é nela que estão concentrados no silêncio dos laboratórios.
Por isso, o tempo de trabalho que dedicam à sua causa, não tem medida, não tem fim.

As grandes audiências do país dos papagaios, apreciarão certamente muito mais uma «Casa dos Segredos» ou um «Jogo de Futebol» do que a divulgação do estado da ciência em Portugal.

Obviamente haverá outras excepções, mas estas não confirmam a regra.

Por isso preferimos falar, arranjamos bons empregos para falar, falar e mais falar!

O falar às massas dá bons empregos, dá bom dinheiro, proporciona importância resultante da notoriedade, mas não notoriedade resultante da importância.

Falamos bem, sem dúvida, mas trabalhamos mal…

Por isso estamos na cauda Europa em quase tudo, excepto na educação que, milagrosamente e de uma ano para o outro, fomos colocados nos tops dos «rankings» europeus, pelo excelente aproveitamento dos alunos, fruto de um grau de exigência e de uma qualidade de ensino ímpares.

São os tais alunos que não sabem o que é 1 metro quadrado, que recorrem à máquina de calcular para multiplicar 5X1, e que contam uma a uma, um conjunto de 18 garrafas, alinhadas numa caixa com 6 no comprimento e 3 na largura.

Não sabem, porque não lhes ensinaram segundo as regras. Por isso, o seu cérebro não consegue fazer operações aritméticas simples, não está treinado para isso.

São os tais alunos que, abandonando o ensino no 9º ano ou antes, por manifesta incapacidade intelectual de fazerem os mínimos de exigência, nas ridículas provas de avaliação actuais, tiram excelentes notas nos cursos das «novas oportunidades» e por via da excepcional média que obtiveram, entram para o Curso de Medicina mas que, com muita probabilidade, nunca chegarão a ser médicos.

Os únicos lesados, seremos nós os contribuintes que, com os impostos que pagamos, estamos a financiar a ignorância e o falhanço destes privilegiados da sorte que, não sabendo aproveitar todas as facilidades do actual sistema de ensino, nem assim conseguem chegar a lado nenhum. Apenas consomem tempo e dinheiro ao Estado.

Falamos demais acreditando cegamente na utopia que nos está a afundar e a conduzir ao abismo.

Muita gente fala, sem saber verdadeiramente o que está em causa, quais a razões profundas da crise que estamos a viver, muita gente fala apenas porque lhe interessa defender os seus interesses individuais, de classe, sindicais ou outros, sem querer saber dos interesses do país.

Já é tempo de falarmos menos e trabalharmos mais.

O país agradece e bem precisa para lançar as bases do seu crescimento económico e com ele o desenvolvimento, a qualidade de vida e erradicação da pobreza que a todos nos envergonha.

Já é tempo de entendermos o logro da utopia em que caímos, mas em que muitos de nós ainda continua a acreditar.

Já é tempo de mudarmos de rumo, de sistema e de filosofia políticos, de deixarmos entrar de vez o ar fresco da primavera e acabar com a imensa invernia em que temos andado mergulhados.

Já é tempo de reivindicar menos e trabalhar mais, de arregaçar os braços e por mãos à obra, porque as tarefas que temos pela frente são imensas e já não se compadecem com «falas» ocas e vazias.

O tempo do falar por falar já devia ter acabado.

O país não se compadece mais com estas inúteis perdas de tempo. O país exige que nos calemos e comecemos a trabalhar no duro, porque o que temos pela frente assim exige.

Mas tudo tem de começar pelo «refresh» das velhas ideias, da velha cultura e assimilar as novas, as únicas que nos podem conduzir ao sucesso.

Ainda estamos a tempo!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

DEMOCRACIA IMPERFEITA: A LEGITIMIDADE DOS INCOMPETENTES

Alguém, com conhecimento de causa, um dia afirmou que «a democracia é o melhor do pior dos regimes».

Esta afirmação, aparentemente disparatada, encerra algo de verdadeiro.

De facto, interpretando a frase à letra, o que ela pretende transmitir é que, dentro de um conjunto de regimes políticos possíveis, considerados maus, a democracia é o melhor deles.

Mas, apesar de ser o melhor deles, não deixa de ser mau, ou pelo menos imperfeito.

Na verdade, dentro das formas de democracia, a chamada democracia representativa, como aquela que caracteriza o regime vigente em Portugal, em que o voto não é obrigatório, não será certamente o regime ideal, pois que, como já tive ocasião de analisar num dos meus artigos, enferma de vícios e imperfeições,

E não sendo o regime ideal, presta-se a manipulações, à diminuição do universo de eleitores, por via da abstenção, deixando de ser representativa e ao voto imperfeito (leia-se não consciente, por falta de informação de grande parte dos eleitores, do que está em causa)

Presta-se a manipulações, em primeiro lugar, por influência do marketing político, por vezes demagógico, prometendo mundos e fundos às massas, mas que na prática não vai ser cumprido.

Presta-se ainda a manipulações por parte do eleitorado que pretende ver defendidos os seus interesses, económicos, financeiros, sociais ou outros. Este eleitorado exerce influência por via da pressão que exerce sobre determinado partido, que quer colocar no poder, fornecendo-lhe todos os meios possíveis, incluindo financeiros (uma forma de financiamento dos partidos) para atingir aquele objectivo.

Em segundo lugar, e muito importante, a abstenção.

De facto, este nefasto elemento da democracia, resultante do facto do voto não ser obrigatório, como convém a certas forças políticas, faz com que o universo de eleitores seja, logo à partida, substancialmente reduzido.

O que significa que, se 40% dos eleitores não votarem, porque não lhes apetece, não estão para se incomodar ou simplesmente estão descontentes com os partidos existentes ou com o sistema político, o universo de eleitores fica reduzido a apenas 60% dos eleitores com capacidade de voto, ou seja a quase a metade (por exemplo, se o conjunto de eleitores for de 8 milhões, e só votarem 60%, aquele conjunto de eleitores, ficará reduzido a 4,8 milhões).

Esta situação vai favorecer os partidos de militância, cujos eleitores, em geral não faltam às eleições, e consequentemente fará subir a sua percentagem de representatividade, que não é verdadeira, isto é, seria muito mais baixa se todos os eleitores votassem.

Por exemplo, para o Partido Socialista, que detém quase sempre o poder, a sua percentagem de 37% dos votos, representa apenas 37% do conjunto dos eleitores que votaram, ( no exemplo 37%x4,8 milhões = 1,776 milhões).

Se for calculada a representatividade destes 1,776 milhões de eleitores, em relação ao total de eleitores (8 milhões), obtemos certamente uma percentagem de representatividade muito mais baixa: (1,776 milhões : 8 milhões) x 100 = 22%.

Ou seja, uma percentagem ínfima de representatividade, pois que não chega sequer a representar ¼ do total de eleitores.

E este Partido, ou outro que conquiste poder desta forma, vai afirmar ter toda a legitimidade para governar o país, pois que foi eleito democraticamente pelo povo!

Pergunta-se, qual povo?

Em terceiro lugar o voto imperfeito.

Um voto só será perfeito, se for consciente, isto é, se o eleitor estiver perfeitamente informado do que está em causa com o seu voto e, nessa medida votar conscientemente.

E, para estar informado do que está em causa, o eleitor precisaria de formação política, habilitações literárias adequadas e perfeito esclarecimento daquilo que se pretende com o seu voto.

Dentro do universo de eleitores, provavelmente mais de metade satisfarão estas condições, até pela experiência democrática, mas seguramente uma grande parte desse eleitorado que habitualmente vota, não as satisfará.

Muitos votarão, segundo os seus interesses pessoais (desde o simples subsídio que o Estado lhe dá e não o quer perder, até ao grande grupo económico e financeiro, que pretende manter os seus privilégios), outros por mero clubismo (sou da classe média, logo voto PS, sou funcionário público, o meu partido é o PS, etc.) e até eleitores votarão pela simpatia e aparência do político candidato às eleições. Este é muito simpático, vou votar nele…

Por tudo isto, a democracia representativa, característica das democracias ocidentais, é muito imperfeita e conduz ao enviesamento dos resultados eleitorais, isto é, à falsidade desses resultados, deixando por isso de ser representativa.

Não sendo representativa, significa que é uma democracia simulada, de fachada, que permite que minorias cheguem ao poder e afirmem que têm legitimidade para governar o país, porque foram eleitas pelo povo!

Numa situação limite, a persistência desta minoria no poder, pode conduzir a uma situação muito próxima de uma ditadura (neste caso pretensamente democrática, por o regime se afirmar, incorrectamente democrático).

A persistência no poder desta minoria, conduz normalmente a excessos, a favoritismo, a clientelismo, a despesismo financeiro desmesurado e no limite à ruína de um país.

Mas pior de tudo é que, essa minoria revela quase sempre uma extrema incompetência, uma persistência no erro, a impor os seus pontos de vista, sem ponderar outras opiniões e tenderá a reflectir os seus interesses pessoais e das usas clientelas, que a ajudaram a conquistar o poder, sem se preocupar com os superiores interesses do país e da sua população.

Foi por esta via que caiu a Primeira República e provavelmente cairá a Terceira. A segunda caiu por outras razões, pois já se vivia em ditadura pura.

Este sistema dito democrático, mas de representatividade limitada, pode perpetuar no poder governos incompetentes, à persistência da incompetência, que acaba por ser legitimada pelo voto persistente sempre dos mesmos eleitores, de acordo com o mecanismo atrás referido.

Ou seja, este sistema, pode não permitir, que outras forças politicas ou independentes, porventura com maior capacidade e competência para governar um país, tenham a sua oportunidade de mostrar o que valem e desse modo serem julgadas pelo eleitorado.


Será o país que perde com este sistema e naturalmente a sua população, que pode ver-se confrontada com sérias dificuldades e no limite arruinar-se o país.

Pode, portanto concluir-se, que o sistema de democracia representativa, tal como está concebido, precisa de uma profunda reflexão e nesse sentido serem introduzidos instrumentos que corrijam as imperfeições de que enferma.

Ou seja, será necessário uma profunda revisão da Lei Eleitoral e até da Constituição, de modo a estabelecer-se um modelo de representatividade, com mais variáveis, de modo a corrigir as imperfeições do actual sistema.

No meu entender, para além de alguns mecanismos já existentes, como a moção de censura, que não funciona em caso de maioria absoluta (mas que no fundo é relativa) e poderá ou não funcionar, em maioria relativa (leia-se minoria em relação ao universo de eleitores), a revisão da Lei Eleitoral, devia contemplar os seguintes elementos essenciais:

- Voto obrigatório

O país não se pode compadecer nem sofrer as consequências da abstenção, pelo comodismo, descontentamento ou qualquer outra razão dos eleitores. Para estes eleitores há uma opção que se chama voto em branco, mas que é um voto como qualquer outro e como tal conta para efeitos de cálculo das percentagens eleitorais.
A abstenção pura e simplesmente não conta.

Além do mais, o voto é um acto de extrema responsabilidade, pois que dele depende o futuro colectivo de um país.

- Revisão do sistema de círculos eleitorais e do método de Hondt
Embora este método procure ser equilibrado e garantir, em certas circunstâncias, a representatividade das minorias, não é perfeito.

Introdução de círculos uninominais.

- Obrigatoriedade de governos maioritários

Qualquer Partido que não obtenha maioria absoluta, tem de formar governo em coligação com a força política cujo programa e princípios ideológicos esteja mais perto no espectro político.

Este princípio é fundamental para garantir a estabilidade governativa, por um lado, e por outro, permite partilhar competências com essa força política.
Garante-se assim, não só a estabilidade, como garante a participação de capacidades e competências, que estariam desaproveitadas e finalmente pode prevenir o clientelismo (leia-se a atribuição de funções públicas ou privadas de forma arbitrária, à mesma força política, os chamados «boys»).

- Eleição de uma Câmara Tecnocrática para a Assembleia da República

Esta Câmara, eleita pelo universo de eleitores, seria constituída, por deputados independentes dos partidos, com perfil e curriculum adequados para esta função e em que seria eleito um Deputado Tecnocrático por cada círculo eleitoral.

A função desta Câmara, cujos deputados teriam direito a um voto cada na Assembleia, seria contribuir para o aperfeiçoamento das leis (dada a sua experiência prática, a sua competência como agentes tecnocratas e uma maior noção das realidades do país).

O seu contributo permitiria que as leis emanadas da Assembleia da República estivessem mais próximas da realidade, corrigindo deste modo, as abstracções de leis elaboradas exclusivamente por funcionários dos partidos, por vezes completamente fora da realidade e de difícil aplicação prática.

- Avaliação técnica e política dos candidatos a deputados

Esta regra visa avaliar a competência dos candidatos a deputados.

Esta competência tem de ser baseada numa avaliação e não em meras nomeações dos partidos. Só assim podemos garantir a qualidade do trabalho dos deputados e melhorar a imagem dos políticos.

Esta regra elimina à partida qualquer nomeação de deputados por imposição de quotas ou baseada na igualdade ou paridade de género (masculino ou feminino).

A nomeação por quotas ou sexo, sem avaliação prévia, não garante competência nem capacidade técnica nem política aos deputados.

Os cargos têm de ser desempenhados em função de competências e não de quotas impostas.

A ruptura com o passado, tem de passar por aqui, como medida prioritária, caso contrário, teremos o nosso futuro colectivo, enquanto país viável, seriamente comprometido!

sábado, 13 de novembro de 2010

TIRAR AOS POBRES PARA DAR AOS RICOS

Hoje, chamou-me a atenção uma notícia, passada em quase todos os canais de televisão e que quase todos os anos se repete por esta altura.
Essa notícia, passada com grande destaque e envolvendo entrevistas aos agentes económicos envolvidos, divulgava aos quatro ventos, que os Hotéis de luxo e de 5 estrelas já estavam esgotados, em todo o país, para o reveillon de fim de ano.

Ainda nem sequer chegámos à primeira quinzena de Novembro e eis que tudo o que é diversão de luxo já está esgotada!

Isto revela, por um lado, a pressa com que certa gente neste país se preocupa em antecipar-se, não vá perder o lugar e por outro, que há muita gente que procura diversão de luxo, daí a pressa.

Mas isto revela, acima de tudo, que há gente muito rica neste país, que passa sistematicamente por cima das crises e estas nunca as atingem.

Mas, revela também o contraste, o imoral e escandaloso contraste, com a miséria e a pobreza de milhões de portugueses, que grassa por todo o país, muitos deles a passar fome, a recorrer à sopa das misericórdias.

É imoral, escandaloso e revoltante, a pompa e circunstância com que os órgãos de comunicação divulgam estas notícias.

Para quem está a sofrer na pele a angústia e o desespero duma crise de que não têm a mínima culpa (com excepção dos que colocaram no poder os príncipes deste regime, os grandes frequentadores da diversão de luxo e os grandes responsáveis pela ruína do país), ao ver e ouvir esta notícia, devem ter ficado estarrecidos e a maldizer o país que tão padrasto foi para eles.

Devem ter sentido a revolta, a raiva, de um sistema, dito socialista, mas que colocou na miséria, na pobreza ou em sérias dificuldades de vida, seguramente, mais de metade da população portuguesa.

Todos sabemos que, os grandes frequentadores dos reveillons de luxo, dos hotéis de luxo, da diversão de luxo, os possuidores de carros de luxo, de mansões de luxo e ordenados de luxo, são os fidalgos da República, os nobres do regime socialista, que propalando a ideologia como o paraíso, enganaram mais uma vez o povo.

E enganaram-no fazendo acreditar que o regime socialista é bom, porque tira aos ricos para dar aos pobres! Muita gente acreditou nesta patranha!

O que que aconteceu, foi exactamente o contrário, o regime socialista tirou aos pobres para dar aos ricos.

De facto, num país em que se fala tanto de igualdade, de solidariedade e de fraternidade, como que desenterrando os dogmas da revolução francesa, onde existe uma Secretaria de Estado da Igualdade, somos confrontados com a dura realidade de um país que fez exactamente o contrário, ou seja, onde as desigualdades são tão gritantes que o transformaram num país tipicamente terceiro mundista.

Como acontece em todos os sistemas de génese socialista, o grupo dirigente, educador e propalador da ideologia e as suas ramificações, apropria-se do poder, perpetua-se no poder apoiado sempre e incondicionalmente pelas ramificações (leia-se militância e interesses instalados), convence o povo com a sua máquina propagandística, reforçando os apoios, cria uma oligarquia aristocrática, paga a peso de ouro, por via da expansão do Estado, arruína o país e põe o povo na miséria ou em sérias dificuldades.

Bem nos lembramos que regimes mais à esquerda do que o nosso, em economia centralizada e colectivizada, o grupo dirigente vivia na opulência, uma espécie de novos czares socialistas.

Brejnev, fazia colecção de carros de luxo, possuia mansão de luxo no Mar Negro, mas o povo era tratado como cão em canil, só tinha direito à ração diária!

Uma vez mais, os nobres e fidalgos desta República monárquica, vão divertir-se à grande e à portuguesa, à boa maneira medieval, nos reveillons de luxo onde já têm o lugar reservado.

Que lhes faça bom proveito e que entrem todos com um pé qualquer, no novo ano, tanto faz o esquerdo como o direito, porque para os sortudos e privilegiados nunca há azares.

O grande Azar, esse sim, vai ter de enfrentar o povo, no novo ano que se aproxima e que de bom não vai trazer nada!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

CRISE: TEMPO DE MUDAR

Etimologicamente a palavra «crise» significa ruptura, mudança.

Nesta linha de pensamento, num país há décadas em crise, já devia ter ocorrido uma ruptura, uma mudança, mas não houve!

O país continua, de crise em crise, cada uma mais grave que a anterior, a seguir a trajectória implacável do abismo. Aparentemente sem qualquer explicação.

E digo aparentemente, porque na realidade tudo tem uma explicação.
E a explicação, o fundamento das crises e a razão porque elas não provocam mudança, também são conhecidas e facilmente decifráveis.

Já passámos por crises semelhantes na 1ª República e as crises provocaram ruptura, mudança.

Em 1926 houve ruptura, houve mudança, porque era possível. Foi a tomada de consciência dos militares de então, de que o país não podia, não suportava mais, o descalabro da experiência democrática da 1ª República e o desastre financeiro a que chegou o Portugal de então.

Em 1974 houve igualmente ruptura, resultante de crises, em consequência da Guerra Colonial e do mal-estar generalizado na sociedade resultante da ausência de democracia e de liberdade absoluta, havia apenas uma liberdade relativa.

Também aqui, foi a tomada de consciência dos militares de então que provocou a ruptura.

Mas, temos de reconhecer, mau grado o regime instaurado de 1926 a 1974, que o país cresceu economicamente como nunca tinha crescido antes e foi arrancado da miséria e do sub-desenvolvimento a que tinha sido votado até 1926. Basta consultar as estatísticas.

Em 2010, já em pleno século XXI, nova crise, esta gravíssima que conduziu o país à falência e com ela o risco de perdermos definitivamente a independência, como país viável e soberano.

De 1974 a 2010, Portugal pouco se desenvolveu.

A entrada na zona Euro, deu-nos a convicção de que passámos a viver melhor, mas foi mera ilusão.

A subida relativa da qualidade de vida dos portugueses e do seu poder de compra, resultaram de meros artificialismos financeiros semelhantes aos da Finlândia e do crescimento de um Estado Gigantesco pagando salários generosos aos seus funcionários e a um Sistema Social que distribuiu benesses e regalias a milhões de portugueses, sem qualquer sustentabilidade económica nem demográfica.

Essa ilusão de relativo enriquecimento dos portugueses não foi suportada por um crescimento económico sustentável, não foi suportada pelo aumento da produtividade do trabalho, não foi suportada pela competitividade da economia, mas pelos artificialismos financeiros atrás referidos.

Entre esses artificialismos podemos referir:

- O excessivo recurso ao crédito bancário para consumo de massas, grande parte dele resultante de produtos e serviços importados, perante o debilitar da produção interna, em consequência das condições impostas pela União Europeia (aniquilação da agricultura e pescas) e da falta de competitividade das empresas portuguesas (produtos importados mais baratos.

- O acesso fácil ao financiamento externo, por parte do sistema bancário, para concessão de crédito ao consumo, aproveitando enquanto foi tempo de «vacas gordas», as baixas taxas de juro praticadas nos mercados financeiros internacionais;

- A transferência de milhares de milhões de euros da União Europeia para Portugal, a título de Fundos de Coesão, destinados a financiar a economia portuguesa no sentido de aumentar o investimento reprodutivo e multiplicativo, para haver crescimento económico e aproximar Portugal dos seus parceiros europeus;

Como se sabe, estes fundos não provocaram o efeito desejado na economia portuguesa, e por efeito da «chico-espertice» tão característica de muitos portugueses, foi aplicado em investimentos não reprodutivos, muitos fictícios e até em mero consumo. Muita gente enriqueceu, mas o país não se desenvolveu;

- Aumento do emprego galopante, nos Órgãos Centrais do Estado, Autarquias e toda a rede pública criada, com salários muito acima da média do sector privado (Institutos, Fundações, Municípios, Empresas Municipais, Entidades Reguladoras, Direcções e Entidades Diversas), especialmente a partir da chegada ao poder do socialista António Guterres.

Estes altos salários e remunerações complementares praticados no sector público, permitiu uma expansão no consumo sem precedentes, da parte destes funcionários, aumentado a oferta de crédito bancário e fazendo aumentar as importações de produtos e serviços, pagos com recurso ao endividamento externo do país, perante a falta de produção interna e de competitividade da economia portuguesa.

- Expansão galopante do Sistema Social de Apoio à população, com explosão de toda a espécie de prestações sociais, por via do imperativo ideológico socialista e de jogadas eleitoralistas, visando a captação de votos e a perpetuação do Partido Socialista no poder.

O efeito desta explosão de prestações sociais, foi o aumento do consumo interno, sem sustentabilidade económica e mais uma vez financiado pelo endividamento externo do Estado, em face da insuficiente contribuição fiscal de um sistema económico débil e dos cidadãos em geral, perante o défice demográfico (queda acentuada da natalidade) e portanto de população activa.

O resultado final de todos estes efeitos foi a falência completa do país, por via do seu endividamento desmesurado, a subida crescente da taxa de juro dos empréstimos externos para financiamento do Estado e da economia, absorvendo hoje cerca de 6% do PIB e portanto colocando Portugal numa escalada de empobrecimento progressivo, ao longo dos anos, perante a impossibilidade do crescimento económico superar aquele valor e com alguma probabilidade, poder ser negativo (recessão), nos próximos anos.

A crise de 2010/2011 é, sem dúvida mais uma crise, mas uma crise gravíssima sem precedentes que, se não tiver solução, poderá atirar Portugal para uma situação de perda completa de soberania e independência e consequentemente ficar sujeito aos ditames de terceiras potências e a sua população ter de enfrentar medidas extremamente severas e drásticas.

Se as crises anteriores exigiram ruptura esta, pela extrema gravidade que está a assumir, muito mais o deve exigir.

Só que agora não há militares que nos valham.

A intervenção dos militares na vida política já não é possível, por três razões fundamentais:

!ª – Portugal perdeu parte da sua soberania ao integrar-se na União Europeia, ficando portanto sob a alçada das leis europeias e portanto qualquer intervenção militar seria severamente rechaçada; o sentimento patriótico que existe, fica diminuído pela actual concepção globalista ou regionalista do mundo;
2ª – Os militares ficaram sujeitos, constitucionalmente, ao poder político democrático;
3ª – Mesmo que as razões anteriores não existissem, não haveria razões forenses que justificassem uma intervenção, do género das que existiram em 1974, pois os militares são bem remunerados e têm carreiras rápidas e asseguradas, não havendo razões de descontentamento.

Mas, se a crise é severa e exige ruptura, como fazê-lo? Sem militares, como fazê-lo?

Apenas será possível tentá-lo por via do entendimento institucional e cooperação entre os Partidos Políticos, Presidente da República e mobilização de todas as forças e energias do país.

Esta situação, contudo não é provável, porque na actual conjuntura de extrema tensão política, nenhum Partido se quer co-responsabilizar com o Partido Socialista, de facto o único que, através do seu governo, é o grande responsável pela falência do país, assim como do seu eleitorado que ainda não percebeu ou não quis perceber que, acima dos seus interesses individuais estão os interesses do país.

Em meu entender, as causas profundas que levaram o país à ruína, já foram por mim abordadas em artigos anteriores e são fundamentalmente as seguintes:

- Paradigma socialista da Constituição

- Lógica socialista na concepção do Estado e do seu papel na sociedade

- Dimensão do Estado exagerada para a dimensão do país, ocupando cidadãos em actividades economicamente improdutivas e muitas vezes repetidas, retirando recursos humanos à economia real e consequentemente para a produção de riqueza

- Crescimento exagerado do sector público estatal, numa lógica socialista, grande parte dele gerando prejuízos por inépcia e oportunismo na sua gestão, absorvendo enormes recursos ao sistema económico e impedindo o seu crescimento

- Ausência de uma estratégia de desenvolvimento sustentado do país, a longo prazo, e inoperância na implementação das reformas estruturais necessárias para eliminar os factores impeditivos do desenvolvimento do país

- Desenvolvimento de um Estado Social, em grande parte por critérios eleitoralistas, sem suporte numa economia sólida e em crescimento, que lhe pudesse fornecer os recursos adequados

- Péssimo aproveitamento dos Fundos de Coesão, disponibilizados pela União Europeia
- Ausência de política demográfica que favorecesse o aumento da natalidade, originando uma pirâmide etária desequilibrada, fazendo diminuir a população activa e contribuinte para o sistema público de segurança social

- Crescimento desmesurado do endividamento externo, para prover a necessidades internas do país, que um sistema económico frágil, não teve capacidade de satisfazer, num quadro de globalização das economias, pelas razões anteriormente referidas

- Políticas fiscais e contributivas pesadas para um sistema económico já de si frágil, forjadas para alimentar o Estado Gigantesco; leis laborais muito rígidas, dificultando o emprego estável e o investimento (nacional e estrangeiro)

- Perpectuação no poder de um grupo partidário inepto e incompetente, resultante de um sentido de voto baseado em interesses instalados, recebimento de prestações sociais de toda a ordem a uma grande parte da população, sem sistema social financeiramente consistente e de cego clubismo partidário.


Mas, de uma forma ou de outra a situação a que chegou o país, exige uma ruptura, seja ela qual for!

Uma ruptura que rompa definitivamente com o passado, com a utopia ideológica fundamentalista que nos arruinou, com os ineptos e incompetentes que nos governaram até aqui, com os oportunismos descarados, com as máfias que se instalaram no país e nos sugaram o sangue, com os corruptos que enriqueceram com a ruína do Estado e com o tal eleitorado oportunista, inconsciente e dos interesses instalados, que colocou e perpetuou no poder, os grandes responsáveis pela ruína do país.

É com tudo isto que temos de romper, se este povo, ao menos uma vez na vida, tomar finalmente consciência dessa imperiosa necessidade e tenha a coragem de o fazer.

Se o não fizer, e é esta a grande hora do «tocar a rebate», estará irremediavelmente perdido, pois a continuação no poder do grupo que destruiu o país, apenas apressará a queda definitiva no abismo!

E o novo Sidónio, quando aparecer virá do povo!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS



O título é meu, mas o Artigo que transcrevo a seguir é da autoria de Miguel de Sousa Tavares, pessoa que admiro pela frontalidade e inteligência com que comenta a situação do país.

Vamos imaginar que a protagonista desta história se chama Alice e que, ao entrar em Portugal, fica maravilhada com o que vê mas, depois de conhecida a verdadeira história, fica extremamente decepcionada e a pensar que somos um país de loucos...

«Segunda-feira passada, a meio da tarde, faço a A-6, em direcção a Espanha e na companhia de uma amiga estrangeira; quarta-feira de manhã, refaço o mesmo percurso, em sentido inverso, rumo a Lisboa. Tanto para lá como para cá, é uma auto-estrada luxuosa e fantasma. Em contrapartida, numa breve incursão pela estrada nacional, entre Arraiolos e Borba, vamos encontrar um trânsito cerrado, composto esmagadoramente por camiões de mercadorias espanhóis. Vinda de um país onde as auto-estradas estão sempre cheias, ela está espantada com o que vê:
- É sempre assim, esta auto-estrada?
- Assim, como?
- Deserta, magnífica, sem trânsito?
- É, é sempre assim.
- Todos os dias?
- Todos, menos ao domingo, que sempre tem mais gente.
- Mas, se não há trânsito, porque a fizeram?
- Porque havia dinheiro para gastar dos Fundos Europeus, e porque diziam que o desenvolvimento era isto.
- E têm mais auto-estradas destas?
- Várias e ainda temos outras em construção: só de Lisboa para o Porto, vamos ficar com três. Entre S. Paulo e o Rio de Janeiro, por exemplo, não há nenhuma: só uns quilómetros à saída de S. Paulo e outros à chegada ao Rio. Nós vamos ter três entre o Porto e Lisboa: é a aposta no automóvel, na poupança de energia, nos acordos de Quioto, etc. - respondi, rindo-me.
- E, já agora, porque é que a auto-estrada está deserta e a estrada nacional está cheia de camiões?
- Porque assim não pagam portagem.
- E porque são quase todos espanhóis?
- Vêm trazer-nos comida.
- Mas vocês não têm agricultura?
- Não: a Europa paga-nos para não ter. E os nossos agricultores dizem que produzir não é rentável.
- Mas para os espanhóis é?
- Pelos vistos...
Ela ficou a pensar um pouco e voltou à carga:
- Mas porque não investem antes no comboio?
- Investimos, mas não resultou.
- Não resultou, como?
- Houve aí uns experts que gastaram uma fortuna a modernizar a linha Lisboa-Porto, com comboios pendulares e tudo, mas não resultou.
- Mas porquê?
- Olha, é assim: a maior parte do tempo, o comboio não 'pendula'; e, quando 'pendula', enjoa de morte. Não há sinal de telemóvel nem Internet, não há restaurante, há apenas um bar infecto e, de facto, o único sinal de 'modernidade' foi proibirem de fumar em qualquer espaço do comboio. Por isso, as pessoas preferem ir de carro e a companhia ferroviária do Estado perde centenas de milhões todos os anos.
- E gastaram nisso uma fortuna?
- Gastámos. E a única coisa que se conseguiu foi tirar 25 minutos às três horas e meia que demorava a viagem há cinquenta anos...
- Estás a brincar comigo!
- Não, estou a falar a sério!
- E o que fizeram a esses incompetentes?
- Nada. Ou melhor, agora vão dar-lhes uma nova oportunidade, que é encherem o país de TGV: Porto-Lisboa, Porto-Vigo, Madrid-Lisboa... e ainda há umas ameaças de fazerem outro no Algarve e outro no Centro.
- Mas que tamanho tem Portugal, de cima a baixo?
- Do ponto mais a norte ao ponto mais a sul, 561 km.
Ela ficou a olhar para mim, sem saber se era para acreditar ou não.
- Mas, ao menos, o TGV vai directo de Lisboa ao Porto?
- Não, pára em várias estações: de cima para baixo e se a memória não me falha, pára em Aveiro, para os compensar por não arrancarmos já com o TGV deles para Salamanca; depois, pára em Coimbra para não ofender o prof. Vital Moreira, que é muito importante lá; a seguir, pára numa aldeia chamada Ota, para os compensar por não terem feito lá o novo aeroporto de Lisboa; depois, pára em Alcochete, a sul de Lisboa, onde ficará o futuro aeroporto; e, finalmente, pára em Lisboa, em duas estações.
- Como: então o TGV vem do Norte, ultrapassa Lisboa pelo sul, e depois volta para trás e entra em Lisboa?
- Isso mesmo.
- E como entra em Lisboa?
- Por uma nova ponte que vão fazer.
- Uma ponte ferroviária?
- E rodoviária também: vai trazer mais uns vinte ou trinta mil carros todos os dias para Lisboa.
- Mas isso é o caos, Lisboa já está congestionada de carros!
- Pois é.
- E, então?
- Então, nada. São os especialistas que decidiram assim.
Ela ficou pensativa outra vez. Manifestamente, o assunto estava a fasciná-la.
- E, desculpa lá, esse TGV para Madrid vai ter passageiros? Se a auto-estrada está deserta...
- Não, não vai ter.
- Não vai? Então, vai ser uma ruína!
- Não, é preciso distinguir: para as empresas que o vão construir e para os bancos que o vão capitalizar, vai ser um negócio fantástico! A exploração é que vai ser uma ruína - aliás, já admitida pelo Governo - porque, de facto, nem os especialistas conseguem encontrar passageiros que cheguem para o justificar.
- E quem paga os prejuízos da exploração: as empresas construtoras?
- Naaaão! Quem paga são os contribuintes! Aqui a regra é essa!
- E vocês não despedem o Governo?
- Talvez, mas não serve de muito: quem assinou os acordos para o TGV com Espanha foi a oposição, quando era governo...
- Que país o vosso! Mas qual é o argumento dos governos para fazerem um TGV que já sabem que vai perder dinheiro?
- Dizem que não podemos ficar fora da Rede Europeia de Alta Velocidade.
- O que é isso? Ir em TGV de Lisboa a Helsínquia?
- A Helsínquia, não, porque os países escandinavos não têm TGV.
- Como? Então, os países mais evoluídos da Europa não têm TGV e vocês têm de ter?
- É, dizem que assim entramos mais depressa na modernidade.
Fizemos mais uns quilómetros de deserto rodoviário de luxo, até que ela pareceu lembrar-se de qualquer coisa que tinha ficado para trás:
- E esse novo aeroporto de que falaste, é o quê?
- O novo aeroporto internacional de Lisboa, do lado de lá do rio e a uns 50 quilómetros de Lisboa.
- Mas vocês vão fechar este aeroporto que é um luxo, quase no centro da cidade, e fazer um novo?
- É isso mesmo. Dizem que este está saturado.
- Não me pareceu nada...
- Porque não está: cada vez tem menos voos e só este ano a TAP vai cancelar cerca de 20.000. O que está a crescer são os voos das low-cost, que, aliás, estão a liquidar a TAP.
- Mas, então, porque não fazem como se faz em todo o lado, que é deixar as companhias de linha no aeroporto principal e chutar as low-cost para um pequeno aeroporto de periferia? Não têm nenhum disponível?
- Temos vários. Mas os especialistas dizem que o novo aeroporto vai ser um hub ibérico, fazendo a trasfega de todos os voos da América do Sul para a Europa: um sucesso garantido.
- E tu acreditas nisso?
- Eu acredito em tudo e não acredito em nada. Olha ali ao fundo: sabes o que é aquilo?
- Um lago enorme! Extraordinário!
- Não: é a barragem de Alqueva, a maior da Europa.
- Ena! Deve produzir energia para meio país!
- Praticamente zero.
- A sério? Mas, ao menos, não vos faltará água para beber!
- A água não é potável: já vem contaminada de Espanha.
- Já não sei se estás a gozar comigo ou não, mas, se não serve para beber, serve para regar - ou nem isso?
- Servir, serve, mas vai demorar vinte ou mais anos até instalarem o perímetro de rega, porque, como te disse, aqui acredita-se que a agricultura não tem futuro: antes, porque não havia água; agora, porque há água a mais.
- Estás a dizer-me que fizeram a maior barragem da Europa e não serve para nada?
- Vai servir para regar campos de golfe e urbanizações turísticas, que é o que nós fazemos mais e melhor.
Apesar do sol de frente, impiedoso, ela tirou os óculos escuros e virou-se para me olhar bem de frente:
- Desculpa lá a última pergunta: vocês são doidos ou são ricos?
- Antes, éramos só doidos e fizemos algumas coisas notáveis por esse mundo fora; depois, disseram-nos que afinal éramos ricos e desatámos a fazer todas as asneiras possíveis cá dentro; em breve, voltaremos a ser pobres e enlouqueceremos de vez.
Ela voltou a colocar os óculos de sol e a recostar-se para trás no assento. E suspirou:
- Bem, uma coisa posso dizer: há poucos países tão agradáveis para viajar como Portugal! Olha-me só para esta auto-estrada sem ninguém!
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sábado, 16 de outubro de 2010

ORÇAMENTO DO ESTADO: O RELATIVISMO DE SEMPRE

Foi hoje apresentado, finalmente, o Orçamento do Estado para 2011.

Um verdadeiro vendaval de sofrimento, pobreza e miséria para milhões de portugueses.
Para milhões de portugueses que já vinham sofrendo os efeitos desta crise que, desde há muito tempo anunciada, mas completamente ignorada pelo governo e que, teimosamente, continuou e continua a insistir que a crise veio de fora.

A crise não veio de fora, ela está, esteve e continua a estar bem cá dentro. Há décadas!

Há décadas que os governos, com especial responsabilidade do Partido Socialista, o que, de longe, mais tempo governou Portugal, descuraram de forma inepta e desleixada, as reformas estruturais necessárias ao nível do Estado, da Economia, do Estado Social e do Sistema Político.

Além de nada terem feito nestes domínios, como se impunha, para haver crescimento económico e com ele o desenvolvimento e prosperidade do país, assistiu-se a um crescimento desmesurado do Estado e com ele todo um sector público empresarial, autárquico, institutos, fundações, milhares de entidades diversas, em muitos casos apenas para satisfazer clientelas políticas, e a um Sistema Social sem sustentabilidade, baseado em critérios eleitoralistas, que fizeram aumentar as despesas públicas para níveis incomportáveis com as receitas possíveis de obter dos cidadãos e das empresas.

Todos sabemos, porque é óbvio, que, sem economia sólida, nem política demográfica adequada, não há sustentabilidade possível para um Sistema Social quase inteiramente dependente do Estado.

Para fazer face ao despesismo desmesurado deste Estado Gigantesco e para suprir a falta de produção nacional e de competitividade da economia portuguesa, os governos recorreram ao igualmente desmesurado endividamento externo, comprometendo a independência, a autonomia do país e a vida das gerações futuras, tendo-nos conduzido para nova e histórica tragédia de bancarrota.

A história repete-se, sempre, sempre , da mesma maneira, apenas mudaram os ingredientes! É o destino fatalista deste povo, dizem alguns!

Mas eu não acredito nisso, nem isso tem qualquer sustentabilidade. Não há nenhum destino fatalista, somos nós próprios, pela cultura que temos, que somos conduzidos para esta situação.

Somos nós próprios que, pela forma como agimos, trabalhamos, como acreditamos cegamente em certas utopias ideológicas, com muito oportunismo, paternalismo e irresponsabilidade à mistura, que somos conduzidos ao abismo.

Naturalmente com a preciosa ajuda de governos incompetentes e irresponsáveis, eleitos por esta democracia simulada, pois que simulada é, dado que 40% não votam e os que votam, muitos votam como se se tratasse do seu clube de futebol, ou seja fidelidade absoluta, quer perca ou ganhe os jogos que disputa.

Por isso o resultado aí está!

E agora, perguntam muitos, o que é que vamos fazer, quem é que nos salva? D. Sebastião numa manhã de nevoeiro?

Este Orçamento do Estado para 2011 é, sem qualquer dúvida, o mais duro e austero de sempre.

Mas os anteriores também o foram, embora em menor grau.

Bem nos recordamos do esforço que os portugueses tiveram de fazer depois do ano de 2005, após a fuga de Guterreses para o milionário cargo na ONU (tratar dos refugiados), por ter deixado o país à BEIRA DE UM PÂNTANO, como ele próprio afirmou e tinha toda a razão.

De facto, já em 2005, após os cinco anos dos governos do socialista António Guterres, o país esteve próximo da bancarrota e após a vitória, com maioria absoluta, do socialista José Sócrates, foi preciso, com a mão de ferro de Teixeira dos Santos, Ministro das Finanças nomeado, fazer um esforço enorme para redução do défice orçamental, à custa de um grande aumento da carga fiscal dos portugueses, penalizando como sempre a classe média, e sem nada se ter feito para reduzir as já nessa altura enormes despesas públicas.

Foi a factura que tivemos de pagar pela inépcia do homem que antes tinha governado o país durante mais de cinco anos, António Guterres. O homem que governava o país de telemóvel e que mandou distribuir telemóveis aos pastores para combater os incêndios…!

Nem sequer se preocupou em saber se havia «rede» nos montes onde os pastores trabalhavam e por isso os telemóveis não serviram para nada.

Mas este homem que nos governou antes de 2005, enveredou por um despesismo desmesurado, inventando subsídios, abonos, o rendimento mínimo garantido para que muitos portugueses deixassem de trabalhar e toda a espécie de «rebuçados» a reformados e outras classes sociais, garantindo demagogicamente, reforma a todos os portugueses, durante cem anos, apenas para ganhar votos, mas criando as condições de insustentabilidade do Estado Social e arruinando as finanças públicas.

Agora com Sócrates o cenário repetiu-se.

Cometeram-se exactamente os mesmos erros e porque o governo não previu, e o país por isso não estava preparado para a crise financeira internacional que já se pressentia em 2007 e 2008 e que surgiu em força em 2009, bastou esse abanão para colocar as nossas finanças de rastos.

Foram as garantias dadas pelo Estado ao sistema bancário, foi a nacionalização de um Banco falido, por desvio de fundos de mais de 4.000 milhões de euros, o BPN, cujo património com este enorme buraco, passou para o Estado, foi o aumento dos funcionários públicos em quase 3%, para fins eleitoralistas, foi a necessidade de aumentar as prestações sociais, de toda a ordem, para os mais carenciados fazerem face à crise, foi a proliferação ruinosa das parcerias público-privadas e todo o despesismo descontrolado do Estado.

Para fazer face a tudo isto e porque o país não tinha recursos suficiente o governo não hesitou em recorrer, como sempre, ao endividamento externo, fazendo crescer perigosamente a dívida pública, cujos juros já eram nessa altura relativamente elevados.

Foram necessários orçamentos rectificativos, ajustamentos, recorrer a Planos de Estabilidade e Crescimento (PEC 1 e PEC 2) avalizados pela União Europeia, já em 2010 e que não surtiram qualquer efeito.

O risco de falência do país aumentava, fazendo subir o risco para os credores internacionais que emprestam dinheiro ao nosso país, fazendo com isso, subir para níveis preocupantes, as taxas de juro dos empréstimos contraídos e com ela a níveis incomportáveis, a dívida pública, aumentando ainda mais o risco de financiamento do país.

O sinal de alarme só agora foi ouvido pelo governo, que ainda em meados deste ano, afirmava, com toda a convicção, que o PEC 2 seria suficiente e que tudo estava dentro da normalidade.

Foi assim necessário mais um PEC 3, cuja dureza está reflectida neste Orçamento do Estado para 2011.

O descalabro das finanças públicas foi de tal dimensão, que obrigou o governo desta vez, a cortes na despesa corrente do Estado, limitados às despesas com pessoal, ao investimento público e com pouco impacto nas despesas com consumos intermédios, onde o despesismo é enorme e sem se avaliar as consequências futuras das parcerias público-privadas, cuja factura a pagar a médio e longo prazos vai ascender a mais de 50.000 milhões de euros, com uma média de 2.000 milhões/ano a suportar pelo orçamento do Estado.

Mas, apenas para reduzir uma pequena parte do défice, este ano, vai ser necessário recorrer a truques contabilísticos, como transferir o Fundo de Pensões da Portugal Telecom para a Caixa Geral de Aposentações, com todos os riscos que a operação acarreta, entre eles o de o Estado ter de pagar pensões milionárias a funcionários da PT e a e recorrer a privatizações de empresas públicas para, já em 2011, tentar-se mais uma pequena redução do défice.

Mas o pior de tudo é que, mesmo com todos estes truques e com cortes limitados na despesa pública, o défice só se prevê descer mais um pouco, à custa de uma enorme subida de impostos, penalizando fortemente toda a classe média e grandes estratos de classes sociais já empobrecidas, devido ao desemprego crónico e precaridade social, e ao definhar de um sistema económico cada vez mais moribundo.

E o efeito perverso destas medidas vai certamente provocar uma séria recessão económica, e o efeito desejado no aumento da receita fiscal, por via do aumento dos impostos, não se irá concretizar com toda a probabilidade, fazendo descer a receita fiscal o que, conjugado com o descontrolo completo da despesa, poderemos ser conduzidos a novo agravamento do défice em 2011 e a necessidade de novo PEC 4 ou, com mais probabilidade, a entrada em acção do FMI, por completo descalabro das finanças públicas.

O efeito que as exportações líquidas (diferença entre exportações e importações) que o governo prevê, tenha um efeito benéfico sobre o Produto Interno Bruto (PIB) provavelmente não compensará em 2011 o efeito recessivo das medidas que este orçamento prevê, pelo que, com toda a probabiliodade o país entrará em recessão séria em 2011, com queda acentuada do consumo privado, do consumo público e do investimento privado e público.

Por tudo isto e considerando que, este orçamento, tal como foi apresentado, apenas vai adiar os problemas e não vai resolver em meu entender, em absoluto, os problemas do país, apesar dos enormes sacrifícios que vai exigir à população portuguesa, não devia ser aprovado na Assembleia da República, pois que, já que o país corre sérios riscos, é melhor a ruptura do que a continuidade no relativismo das soluções e com ela, a procura de uma solução duradoura para o país:

Um Orçamento que satisfaça as seguintes condições:
- Defina uma estratégia de desenvolvimento a médio e longo prazos para o país
- Preveja um pacote de medidas de emergência para apoio e reanimação da economia, mais eficaz que os PME INVESTE. Criação de um Fundo de Emergência
- Preveja o lançamento das bases para a reforma do Estado e da Admistração Pública e com ela a diminuição drástica da dimensão do Estado em todas as suas componentes (Institutos Públicos, Fundações, Empresas Públicas, Empresas Municipais, Municípios, Juntas de Freguesia, entidades diversas)
- No imediato o corte substancial das despesas correntes do Estado, não apenas em pessoal, mas em todas as verbas relativas a consumos intermédios, incluindo serviços externos.
- Compensação do aumento dos cortes na despesa corrente, com diminuição dos impostos, designadamente a não subida do IVA para 23%, ou no máximo para 22%. Não subida do IVA nos escalões intermédios (produtos de primeira necessidade e medicamentos)
- Revisão mais racional das deduções fiscais e do ajustamento dos escalões do IRS
- Não aumentar o IRS a reformados com menos de 1500 euros/mês embora congelando as pensões temporariamente em 2011
- Não aumentar o IRC para as empresas e manter a taxa reduzida de tributação para as micro e PME’s que tenham lucros reduzidos.
- Aumentar a tributação sobre os resultados dos Bancos em 2,5%, dado que retraíram a sua função social de apoio à economia e aos cidadãos.
- Orçamentação de verba para investimento público selectivo, isto é, que possa dinamizar Micro PME’s e criação de emprego, ou pelo menos, compensar o aumento previsível do desemprego.
- Criação de um Fundo de Solidariedade Nacional, constituído por receitas voluntárias de donativos de entidades e particulares, que se disponibilizem para tal, destinado a combater a fome e a miséria que grassa por todo o país e instituições que apoiam crianças e idosos e que se encontram em risco.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

OS NOBRES DA REPÚBLICA

Na passagem, hoje dia 5 de Outubro de 2010, do centenário da implantação da República, é tempo de profunda reflexão!

Reflexão sobre o que se ganhou e perdeu, sobre o que aprendemos e não aprendemos, sobre a nossa identidade cultural enquanto povo.

Fazendo um Balanço geral do que foram cem anos de sistema republicano, direi que o Balanço foi negativo.

Não há, portanto, grandes razões para comemorarmos a República!

Dezasseis anos de guerra civil, de tumultos, violência, assassinatos, instabilidade política e social, que conduziram à bancarrota do país em 1926.

Um regime anti-democrático, de partido único, intolerante, perseguidor de ideias, condenando por delito de opinião, mas muito eficiente na gestão da coisa pública.
Treze anos de guerras coloniais.
Tudo isto durante quarenta e oito anos, de 1926 a 1974.
Foi o resultado da má experiência democrática da primeira república e da constatação de que não sabemos viver em democracia.

Trinta e seis anos de novo em regime democrático, mas de fachada, limitado apenas a partidos da esquerda política, os únicos autorizados a governar o país, por imposição de uma Constituição de paradigma socialista, saída da revolução de 1974.
Dito de outra forma, trinta e seis anos de regime socialista, caracterizado por violência, uma descolonização catastrófica, golpes palacianos, calculismo político, eleitoralismo, intolerância, compadrio, corrupção, incompetência, esbanjamento do erário público, uma espécie de ditadura democrática socialista, resultante de um Voto popular clubista, inconsciente, subsidiado ou representando interesses inconfessáveis e que conduziu o país em 2010, a NOVA BANCARROTA, a condições extremas de desigualdade social, à miséria de milhões de portugueses e à condição humilhante, de país mais atrasado da Europa.


Conclui-se, portanto que, em cem anos de regime republicano, não temos razões para comemorar coisa nenhuma, a não ser a festa apenas servir para distrair e adormecer ainda mais este pobre povo ou para exibir os COCHES DE LUXO dos novos NOBRES DA REPÚBLICA.

Mas, para mal de todos nós, foi sempre assim. Também o foi durante a Monarquia Absoluta e durante a Monarquia Constitucional, basta ler a História.

O MAL está em nós!

O mal não está na natureza do regime e por isso tanto faz ser monárquico como republicano.

Há monarquias constitucionais por toda a Europa e que são países prósperos e desenvolvidos, porque têm governos competentes que sabem governar e acima de tudo têm UM POVO CONSCIENTE, RESPONSÁVEL, QUE SABE DISTINGUIR QUANDO UM GOVERNO GOVERNA BEM OU MAL E NÃO HESITA EM PENALIZÁ-LO QUANDO ELE GOVERNA MAL!

Em Portugal não é assim.

Em Portugal temos um povo, esse que determina o resultado das eleições , que orienta o sentido do seu voto, não em função da competência dos governos, mas em função dos subsídios e regalias sociais que o partido do poder lhe oferece.
Portanto, em Portugal os eleitores vão atrás do «canto das sereias», dos «violinos no telhado», das guloseimas oferecidas, das «papas e bolos com que se enganam os tolos».


Mas em Portugal existe uma outra faceta paradigmática, de outra parte do eleitorado. É a que pura e simplesmente NÃO VOTA, aquela que se está nas tintas para tudo isto e que representa quase metade do universo de eleitores, fazendo com a sua atitude deplorável, deturpar e falsear os resultados das eleições.

Estes dois conjuntos de eleitores são, juntamente com os políticos por eles eleitos, os GRANDES RESPONSÁVEIS PELA SITUAÇÃO DE CALAMIDADE SOCIAL, POLÍTICA, ECONÓMICA E FINANCEIRA EM QUE PORTUGAL SE ENCONTRA.

O mal está, portanto em nós!

Não foram a Monarquia nem a República que determinaram o destino fatalista deste povo. Foi a sua IRRESPONSABILIDADE, INCONSCIÊNCIA, ATITUDE PATERNALISTA E OPORTUNISMO.

Porque isto é verdade, a História demonstra-o em inúmeros exemplos, que faço esta afirmação contra mim próprio, porque também faço parte deste povo.
Mas eu faço parte daqueles que, felizmente, sabem distinguir o «trigo do joio» e como eu muitos concidadãos deste país, e que, sem culpa formada e sem nada podermos fazer, estamos a sofrer na pele as consequências da irresponsabilidade de alguns.

Se conjugarmos os factos atrás descritos, à cultura de esquerda prevalecente no país, em antítese de uma cultura predominantemente democrática e de uma consciência nacional, consequência directa de uma Constituição Socialista e de uma formação sindical, política e educativa das massas trabalhadoras e jovens, nessa cultura, para além do edifício legislativo decorrente da Constituição, bloquear todo o sistema económico, impedindo o seu desenvolvimento natural e a sustentabilidade de um Estado Social credível. encontramos aqui também uma grande razão para o fracasso desta Terceira República.

É verdade que nem tudo foi mau. O Balanço foi negativo, mas nem tudo foi mau.
Em termos relativos, há cem anos estávamos pior. Mal parceria se, em cem anos não tivéssemos evoluído nada.

Mas também em termos relativos e em comparação com os nossos parceiros europeus, somos os piores, os que menos se desenvolveram.

E ainda em termos relativos e tendo em conta a evolução do custo de vida desde há cem anos e o facto da nossa economia estar integrada na zona euro, ganha-se mais em valor absoluto, mas perdeu-se poder de compra, as classes médias empobreceram, as desigualdades sociais agravaram-se, o sistema económico está estagnado há mais de duas décadas e o Estado Social, de cariz eleitoralista, construído e assente em pés de barro, está prestes a demoronar-se como um castelo de cartas!

Em contrapartida, este sistema dito socialista, por mero oportunismo de alguns, pela incompetência dos políticos da esfera do poder e do voto irresponsável de certo eleitorado, fez surgir uma nova classe de novos ricos, ligada ao Estado, ao sector público dependente do Estado, a grandes empresas privadas ligadas ao Estado e aos chicos-espertos e chicas-espertas que operam na economia marginal e fogem às suas obrigações, VERDADEIRA NOBREZA DA REPÚBLICA, acumulando dinheiro e mais dinheiro, suor e miséria de milhões de portugueses!

É este, infelizmente e para mal de todos nós, o Balanço desta Terceira República Abrilista!

terça-feira, 14 de setembro de 2010

CUBA: DOS ÚLTIMOS REDUTOS

O caso de Cuba é verdadeiramente paradigmático e exemplar, em matéria de aplicação da ideologia comunista em algumas regiões do mundo.

As notícias que chegam daquelas paragens da América Central, são verdadeiramente bombásticas e dignas de uma reflexão e ponderação aprofundadas, por quem ainda acredita nas virtudes do comunismo.

Chegou tarde, mas chegou. Levou tempo, muito tempo, para que Fidel Castro, reconhecesse o erro colossal em que incorreu e com ele arrastasse todo um povo!

Com ele, cometeram-se barbaridades, fuzilamentos, perseguições políticas, presos sem conta, por delito de opinião, emigração forçada para os EUA, muitas vezes acabando de forma trágica no mar do estreito da Flórida!


Para quê? Em nome de quê?
São perguntas sem resposta...porque, de facto, não têm resposta!

O que é facto, é que um dos últimos redutos do comunismo mundial, caiu, finalmente.
Mas, o que é surpreendente, inédito mesmo, é o facto de ainda em vida, o grande ideólogo e comandante da revolução cubana, ter reconhecido o erro, quando tudo previa que o regime só cairia, após a sua morte.

Não foi por acaso que o líder, mesmo em recuperação de prolongada doença, mobilizou forças para ir ao Parlamento Cubano, proferir um discurso ao seu estilo, mas muito mais moderado.

Não tardou a boa nova, após este discurso.

O seu irmão, regente do regime, por impedimento do comandante, anuncia reformas no sistema económico, sendo a partir agora permitidos os sectores privado e cooperativo, juntamente com o público, o único permitido até aqui.

Isto significa que, a partir de agora, os cidadãos cubanos e não só, poderão criar empresas privadas, por sua livre iniciativa e também poderão organizar-se em Cooperativas de produção, comerciais ou de serviços, igualmente por sua livre iniciativa.

Este facto, reconhecido agora em Cuba, já o tinha sido na China, pós-Mao Tsé Tung, há mais de três décadas.

E o resultado da mudança na China, está bem à vista de todos.
A China é hoje, nada mais nada menos, do que a segunda economia mais desenvolvida do mundo, apenas superada pela dos Estados Unidos da América e apenas por enquanto.

Se compararmos a China comunista dos tempos da revolução cultural e dos guardas vermelhos de Mao Tsé Tung, podemos avaliar a dimensão do milagre.

Foi a renúncia ao sistema comunista, limitador e castrador da livre iniciativa e criatividade humanas, que permitiu o milagre. E ele aí está para espanto e surpresa de todo o mundo.

Vai acontecer o mesmo com Cuba, tenho a certeza, tal aconteceu com a China e com a antiga União Soviética, agora limitada à Rússia.

Cuba, se souber gerir bem o novo sistema, se aproveitar da melhor forma as suas potencialidades económicas, que são muitas, desde o turismo aos recursos agrícolas e à capacidade criadora do seu povo, daqui a dez anos ninguém a vai conhecer.

Oxalá consiga este desiderato, estou absolutamente certo que sim, e que o povo cubano, que tanto sofreu durante mais de meio século, sob um regime ignóbil, tenha agora a sua oportunidade de prosperar e ser feliz.

Mas há uma lição a tirar. Mais uma lição!

Mais uma vez o erro cometido em Cuba e que em geral é cometido em todas revoluções, quando se substitui um sistema social e económico, considerado ultrapassado, mas localizado num extremo, por outro considerado melhor, há sempre tendência em localizá-lo no extremo oposto.

Aconteceu em Cuba, aconteceu na Rússia dos czares, aconteceu na China, na Coreia, no Vietname, no Laos, no Chile de Pinochet e também ensaiada em Portugal com a revolução de 1974, decorrendo ainda, neste preciso momento, em muitas regiões do mundo, guerrilhas armadas tentando impor pela força, regimes semelhantes aos implantados naqueles países.

Todas estas revoluções que saíram de um extremo e se colocaram no outro extremo, tiveram custos gigantescos em vidas humanas sacrificadas e em sistemas económicos e sociais destruídos.

Só em vidas humanas custaram dezenas de milhões de mortos.

E novamente a pergunta.
Para quê? Em nome de quê?

E a pergunta continua a não ter resposta, a não ser a justificação dos respectivos mentores e ditadores de que estas revoluções foram feitas em nome do povo e para bem do povo. Qual povo pergunta-se?

Valeu a pena o sacrifício de milhões de vidas em nome desta justificação injustificada ou da loucura paranoica destes ditadores?

É óbvio que não!

E o erro cometido é sempre o mesmo: CAIR NO EXTREMO OPOSTO!

Também é óbvio que, se o sistema anterior que a revolução substituiu, por estar ultrapassado e localizado num extremo, era mau, também será mau se o novo sistema se situar no extremo oposto.

E como tal, mais tarde ou mais cedo irá cair, por ser danoso e inconveniente para o povo.

E nova revolução surgirá! Sempre em nome do mesmo povo!

Conclui-se, portanto, que as revoluções, são, pela sua própria natureza, extremistas e que será sempre conveniente, quando um sistema é susbstituido por outro, os protagonistas dessa mudança, não caírem na tentação dos extremismos.

A história que todos devíamos conhecer e em particular os mentores de revoluções, ensinou-nos, de forma dramática que, não compensa cair-se em extremos, não só os custo serão enormes, como o resultado final do processo, será idêntico ao que prevalecia no sistema anterior. O saldo será zero!

Por isso as revoluções do século XXI deveriam ser todas pacíficas, sem derramamento de sangue, sem perseguições políticas, procurando-se substituir o sistema anterior, não de forma radical, mas progressiva, introduzindo melhorias e reformas e nunca, em circunstância alguma, cair-se em extremos.

Em nome e em honra da história, deverá ser assim para o futuro.

Portugal, com a revolução de 1974, também ensaiou uma experiência semelhante, e até aconselhada por Fidel de Castro (estiveram previstos fuzilamentos na Praça de Touros do Campo Pequeno, em Lisboa, se bem nos recordamos, os que viveram estes acontecimentos) mas, felizmente foi gorada a tempo de se evitar uma catástrofe.

Mas, algo ficou dessa experiência revolucionária e a nossa cultura de esquerda foi adquirida desses tempos e ainda prevalece.

Nota-se uma tendência para os extremos em quase tudo: na educação, na justiça, na economia, no papel do Estado, nos valores sociais, no papel da Família, e noutras áreas.

Por isso, se não invertermos a tempo esta tendência, procurando equilíbrios, corremos o risco da desagregação económica e social, do aparecimento de tensões sociais e com elas a novas revoluções.

É tempo de Portugal aprender com a História!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O QUE É SER DE DIREITA

Num país como Portugal onde predomina uma cultura de esquerda, herdada de uma revolução socialista, já lá vão trinta e seis anos, e de uma formação sindical e política de partidos ditos de esquerda, das chamadas «classes trabalhadoras», não é fácil ser de direita e falar sobre os valores da direita.

E, até, paradoxalmente, pessoas que assumidamente compreenderam e assimilaram os valores da direita, têm vergonha ou temor de o dizer publicamente.

É muito triste e confrangedor, termos a constatação destes factos, num país dito livre e democrático, como se afirma Portugal, através do poder instituído.

Ser de direita não é nenhum sacrilégio, não é nenhum crime É preciso desmontar, de uma vez por todas, este preconceito, esta ideia feita de que a direita, como a muitos portugueses foi repetidamente ensinado, é o fascismo e a reacção, a faixa politica onde se situam os patrões e donos de empresas, como se estes não fossem também trabalhadores.

Nada mais errado!
É preciso desmontar o mito e o preconceito!


É preciso divulgar os valores da direita, os verdadeiros valores da direita, para que, quem trabalha, seja por conta de outrem, seja por conta própria, seja activo ou aposentado, os possa compreender e decidir livremente.

Só assim haverá verdadeira liberdade no nosso país.
Não é, como acontece, na maioria dos casos, os órgãos de comunicação, veicularem apenas ideias de esquerda, através de oradores e colunistas, quase sempre os mesmos, previamente seleccionados, que esclarecemos e tiramos as dúvidas ao povo português.


Por isso Portugal é um país de esquerda! Por isso temos uma cultura de esquerda e com ela, no meu entender, nos estamos a afundar.
A utopia, como sempre, e como valor absoluto que é no nossos país, prevalece sobre a realidade. Nada é mais importante do que a utopia.

Por isso somos, no contexto europeu, um dos países mais atrasados, senão mesmo o mais atrasado, de mais baixo rendimento «per capita» e, paradoxalmente onde predomina a pobreza, a ignorância, a «chico-espertice» ( leia-se, a mais douta consultoria generalista existente em Portugal) e a exclusão social.

Mas, também e ainda mais paradoxalmente e escandalosamente, onde predomina uma nobreza que aufere altíssimos rendimentos, muito acima das médias europeias, ligada às grandes empresas públicas e às grandes empresas privadas do betão e não só, que têm o privilégio, nesta sociedade paradoxal, de venderem bens não transaccionáveis (leia-se em que não há concorrência) e ganham quase sempre os grandes concursos públicos abertos pelo Estado.

São estes, então, os valores da esquerda?
São estes os valores que empobrecem cada vez mais os portugueses e as classes trabalhadoras e contribuem para o aparecimento de uma nobreza riquíssima, que não faz outra coisa senão acumular dinheiro e mais dinheiro à custa do sacrifício e da miséria dos portugueses?

Em Portugal tudo indica que sim!

Os factos observados, apontam nesse sentido, ou seja, os valores da esquerda só têm contribuído para o empobrecimento de grande parte dos portugueses e para o enriquecimento desmesurado de minorias privilegiadas!

Mas, os valores da esquerda, não se esgotam nem se resumem apenas nos factos atrás descritos.


Há muito mais a dizer, e que constitui a base, os alicerces deste edifício, prestes a ruir e que se chama Portugal.

A diferença entre esquerda e direita não é apenas filosófica, mas acima de tudo de natureza metodológica, isto é, os métodos utilizados para se atingir o máximo nível de bem-estar social, objectivo a que se propõe toda a filosofia política, são muito diferentes entre a esquerda e a direita.
Assim:

- Principais diferenças de ordem filosófica:

A esquerda é limitativa da liberdade individual e da livre iniciativa
A direita propõe a liberdade individual, com responsabilidade e a livre iniciativa

A esquerda é igualitária, isto é, reduz o indivíduo, à condição de mero número social igual a todos os outros, não distinguindo os bons dos maus
A direita incentiva o valor, a criatividade e a afirmação individual, isto é, dá espaço a que cada indivíduo construa em liberdade a sua vida e a sua carreira.

A esquerda é colectivista, é contra a propriedade privada e portanto é contra natureza intrínseca do Homem, que deseja a propriedade de bens materiais.
A direita defende a propriedade privada e incentiva o indivíduo, pelo seu esforço, pelo seu trabalho e pelas suas capacidades, a tornar-se proprietário.

A esquerda defende valores anti-naturais, isto é, que são contra a Vida e a Ordem Natural (defende o Aborto, a Homossexualidade, a Droga).
A direita defende valores naturais que procuram preservar a Vida e a Ordem Natural.

A esquerda defende a unicidade de pensamento, procurando impor uma única forma de pensar a todos os cidadãos.
A direita propõe a liberdade de expressão e pensamento e o pluralismo democrático

A esquerda é anarco-revolucionária, isto é, procura substituir os valores sociais que se impuseram ao longo dos séculos e da história do Homem, como os mais adequados, por valores anti-sociais ou simplesmente a ausência de valores de referência, substituindo-os pelo individualismo.
A direita procura preservar, numa perspectiva de evolução das sociedades, os valores sociais fundamentais, como a Família, o papel e responsabilidade dos pais na educação e formação dos filhos e princípios e valores sociais que constituam referências para o conjunto da sociedade.

A esquerda é estatizante, isto é, defende o primado do Estado sobre o cidadão, isto é, a prevalência de um Estado orientador e controlador dos actos dos cidadãos e a submissão incondicional destes àquele.
A direita defende o primado do cidadão sobre o Estado, ou seja, o Estado existe para servir os cidadãos e prover às suas necessidades colectivas., que não possam ser satisfeitas por privados.


- Principais diferenças de ordem metodológica:

A esquerda é interventiva e totalitária, isto é, intervém na sociedade e no sistema económico, através de um Estado gigante e todo poderoso, asfixiando e e limitando a livre acção das forças sociais e dos agentes económicos.
A direita defende a regulação e não a intervenção do Estado, criando espaço à livre iniciativa e à capacidade criadora dos cidadãos e dos agentes económicos.

A esquerda defende um Estado Social baseado no livre arbítrio do Estado em matéria de cobrança de impostos e contribuições, retirando uma parte substancial do rendimento obtido por quem se esforça, trabalha e revela capacidades, para redistribuir a quem não trabalha, não se esforça e não revela capacidades, dando origem a graves injustiças e fomentando o ócio, o desemprego e o parasitismo.


A direita propõe um Estado Social baseado numa economia sólida, em crescimento, num Estado de pequena dimensão, cobrando impostos e contribuições de forma equilibrada, fornecendo o apoio social a quem realmente precisa e criando condições para ocupação de postos de trabalho a quem estiver em condições de trabalhar.


A esquerda defende o primado do social sobre o económico, isto é, tende a distribuir riqueza ainda não gerada ou gerada de modo insuficiente por um sistema económico frágil e sobrecarregado de impostos e contribuições, contribuindo para o definhar daquele e pondo em causa o Estado Social.

A direita defende o primado do económico sobre o social, isto é, criar previamente riqueza suficiente, através de um sólido sistema económico, e só depois distribuí-la de forma equilibrada, justa e equitativa, gerindo deste modo um sólido e verdadeiro Estado Social.

A esquerda é maximizante da dimensão do Estado e do seu poder interventivo, dificultando a acção dos agentes económicos e colocando-os ao serviço daquele, limitando deste modo o desenvolvimento económico natural.
A direita é minimizante da dimensão do Estado e do seu poder interventivo, dando espaço à acção dos agentes económicos e dos cidadãos, com um adequado nível de regulação.


Procurei apontar apenas as principais diferenças de ordem geral.
Muitas mais se poderiam apontar, de pormenor.

Em síntese e comparando as principais diferenças entre esquerda e direita, não é difícil deduzir as causas do nosso sub-desenvolvimento.

Enquanto a filosofia política e as metodologias subjacentes, que prevalecem em Portugal não mudarem, o país não terá futuro.
Enquanto não prevalecer o equilíbrio e os pratos da balança continuarem desequilibrados apenas em favor de umas partes do tecido social, Portugal não terá futuro.

Por isso e como já referi em artigos anteriores, defendo a «democracia social flexível» ao centro, com equilíbrio entre esquerda e direita, mas tendo como pano de fundo, base e suporte de tudo, a prevalência dos valores da direita, os únicos capazes de gerar riqueza em abundância e depois permitir a sua distribuição de forma justa e equitativa, num quadro de liberdade, com responsabilidade, dos cidadãos.