sábado, 19 de agosto de 2017

A NOVA SUIÇA DA EUROPA E A QUESTÃO VITAL(I)

As pessoas mais esclarecidas deste país, e são muitas, felizmente, sabem que Portugal podia ser, com inteligência e políticas realistas e equilibradas, uma nova Suíça da Europa.
Apenas com a nossa dimensão geográfica e demográfica, temos imensos recursos internos e externos que, bem explorados, bem geridos e bem aplicados, nos poderiam levar, em não muitos anos, a ser um país próspero e desenvolvido.
Próspero no sentido económico, com um bom rendimento médios per capita e desenvolvido em todas as vertentes do desenvolvimento de uma sociedade e de um povo: na ciência e tecnologia, na cultura, na educação, no apoio social, num excelente sistema de aposentação.
 
Antes de prosseguir e para percebermos o que quero dizer e onde, infelizmente nos situamos, conto-vos uma HISTÓRIA VERÍDICA, ocorrida há pouco tempo, num supermercado.
Eu e a minha mulher, depois das compras, dirigimo-nos a uma das caixas para pagamento. Um pouco antes de chegar a nossa vez, verificámos que a jovem empregada da caixa, chorava de forma visível, mas lá ia, não sem dificuldade, cumprindo a sua tarefa.
Nenhuma das pessoas que estavam à nossa frente se importunou com o que estava a acontecer.
Quando chegou a nossa vez, a rapariga desata num choro incontrolável. As lágrimas corriam-lhe pelo rosto abaixo.
E nós perguntámos: «amiga, o que se passa consigo? Sente-se mal? Precisa de ajuda? Diga, nós ajudá-la-emos!»
Ela, aos soluços, respondeu. Muito obrigado pela vossa preocupação, mas a ajuda de que eu preciso, os senhores, por muito boa vontade que tenham, nunca a conseguirão concretizar.
Pela forma como se expressava, via-se, claramente, que era uma pessoa culta e educada.
As pessoas, atrás de nós, começavam a queixar-se da demora. Alguns diziam: se a senhora não está em condições de trabalhar, deve ser substituída, revelando total indiferença pelo sofrimento dos outros!
Virei-me para trás e pedi calma.
Insisti, com a rapariga e disse-lhe: fale, desabafe, pode ser que haja uma solução e a possamos ajudar.
Ela, voltando aos soluços e muito nervosa, lá desabafou:
«Aquilo que eu sempre sonhei, por que tanto lutei, me esforcei e trabalhei, todas as minhas esperanças se perderam e desvaneceram.
Eu sou advogada, ainda não tenho trinta anos e eu estou reduzida à minha insignificância, num trabalho que antigamente chegava a 4ª classe para o desempenhar, ganho uma miséria de € 450 que mal me dá para comer, trabalho como uma escrava e ainda por cima não tenho jeito nenhum para o fazer e arrisco-me a ser despedida».
As lágrimas afloraram também aos nossos olhos. Pedi-lhe que me desse o seu contacto e, se a pudéssemos ajudar o faríamos.
O resto da história, não vale a pena continuá-la, pois ainda não terminou. Por mais contactos que já tenha feito, nenhum se disponibilizou para a ajudar. Se a minha empresa estivesse ainda  activa, não teria hesitado e, tê-la-ia ajudado com um trabalho compatível com a sua área de formação, o Direito.
 
 
Esta pequena história, muito recente, serviu como dramática introdução a esta reflexão e para percebermos, como este regime e estes protagonistas, arruinaram o nosso país, ao ponto de castigarem e esmagarem, impiedosamente, toda uma geração, os nossos filhos e, com muita probabilidade, também os nossos netos.
 
O regime político, iniciado com o golpe de Estado de 25 de Abril de 1974, alegadamente democrático, em sistema parlamentarista e alegadamente representativo, é um facto, gerou a situação anteriormente descrita, a muitas raparigas da caixa e a muitos jovens e adultos portugueses condenados a empregos precários, quase de escravatura ou pior ainda, a não terem emprego e a viverem na casa dos pais.
 
São estas, entre muitas, as consequências negativas visíveis: negar uma vida digna a muitos milhões de portugueses e, aos mais jovens, impedi-los de constituir uma família e construir a sua vida. E terem de emigrar.
 
Mas, o importante, nos dias de hoje, já não será tanto debruçarmo-nos sobre as consequências, já nos vamos, lamentavelmente habituando a elas, remetidos a uma resiliência e a um fatalismo quase irreversíveis.
O importante, hoje,  é o balanço, o juízo, a identificação das causas, a análise crítica ao que tem sido o «regime abrilista», no fundo, ao julgamento da História recente de Portugal, nas últimas quatro décadas.